Risco de vida faz parte do dia a dia dos fiscais estaduais agropecuários

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Capítulo 9Especial #Afagro20anos

Em 20 anos de história da Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul (Afagro) são inúmeros os relatos de situações embaraçosas e risco de vida no exercício da função e até mesmo no horário de descanso, como veremos nos relatos. Assédios e ameaças fazem parte do dia a dia da categoria. Confira alguns causos vivenciados nas últimas duas décadas e compartilhados por colegas para o Especial #Afagro20Anos.

Servidor estava em avião de comitiva que caiu em lavoura de arroz

“No dia 4 de dezembro de 2008, estava acompanhando uma missão chilena que estava auditando o Rio Grande do Sul para habilitar o Estado para exportar carne bovina para o país andino. Na comitiva, estava eu (Seapi), Bernardo (SFA-RS), Mozar (Mapa-Brasília) e dois auditores chilenos (Andrés e Julio). O roteiro da viagem era Porto Alegre-Uruguaiana-Bagé-Porto Alegre. Como eram apenas dois dias, fizemos o roteiro num avião de pequeno porte (para sete pessoas). Na ida foi tudo bem. No retorno, saímos de Bagé e a previsão era pousar na Capital no final do dia. Ao chegar perto do aeroporto de Porto Alegre, infelizmente, o avião começou a rapidamente perder altitude devido a uma pane seca (que só ficamos sabendo depois) e tentou fazer um pouso de emergência no aeroclube de Eldorado (que também só soubemos depois). Desafortunadamente, devido à falta de combustível, não conseguimos chegar até lá e tivemos um pouso forçado num arrozal que, por sorte divina, foi bem-sucedido e apenas sofremos algumas lesões médias e leves, mas ao final todos ficaram vivos, incluindo o piloto e copiloto. À época, tivemos grande dificuldade para que nos resgatassem do local, já que a comunicação (e localização) não era tão fácil como hoje. O primeiro suporte que tivemos foi do colega da inspetoria de Eldorado, Antônio Carlos de Quadros Ferreira Neto (Cacaio), que após ser acionado pelo diretor do nosso departamento conseguiu identificar o local do incidente e chegou até lá. Fomos resgatados, posteriormente, com ajuda de um helicóptero das forças de segurança e levados ao HPS de Porto Alegre. Tirando um colega chileno (Andrés, que teve lesões mais sérias), os demais sofreram lesões mais brandas, muitas devido ao cinto de segurança e ao impacto durante o pouso. No final de 2023, comemoramos 15 anos do ‘renascimento’. Até hoje, mantemos um grupo de WhatsApp com os cinco passageiros daquele voo. Devido ao acidente, criamos uma grande amizade, sempre mantemos contato e esperamos nos encontrar presencialmente no início de 2024.”

Diego Viali dos Santos, ingressou no Estado em 2006, atuava no Serviço de Doenças Vesiculares. Em 2014, tornou-se servidor federal.

Comitiva no aeroporto de Bagé, antes do acidente
(Foto: arquivo pessoal/Diego Viali dos Santos)

Fiscal levou um tiro na perna ao abordar caminhão em barreira

“O fato ocorreu em 20 de outubro de 2005, no interior do município de Porto Xavier, durante uma operação de fiscalização volante, da qual apenas eu e um policial militar fazíamos parte. Observamos se deslocando em nossa direção um pequeno caminhão boiadeiro, com três bovinos na carroceria. O policial sinalizou ao condutor que parasse o veículo, mas o motorista do caminhão não obedeceu e seguiu em frente. Como o trecho da estrada não era pavimentado e apresentava muitas pedras soltas, o que tornaria muito arriscada uma ultrapassagem, optamos por seguir o veículo de uma distância segura, aguardando um momento mais oportuno para abordá-lo. Alguns quilômetros à frente, o caminhão ingressou nas dependências de um matadouro municipal, próximo à cidade. Me aproximei do veículo, já estacionado próximo ao desembarcadouro do estabelecimento, e solicitei ao motorista a nota fiscal e a GTA dos animais, quando então o motorista respondeu: não tenho nada, os animais não são meus, apenas estou transportando’. Conversei com o policial e solicitei que providenciasse, através do rádio comunicador, um reforço policial para conduzirmos o veículo e o condutor até a Delegacia de Polícia de Porto Xavier para efetuarmos o boletim de ocorrência para identificação das partes envolvidas. Foi então que o motorista, já nervoso, falou para o proprietário do matadouro que observava que iria descarregar os animais ali mesmo. O proprietário do matadouro, então, falou ao motorista que não seria possível e que ele nos acompanhasse. Em seguida, o motorista do caminhão ingressou na cabine do veículo falando ‘já vou resolver isso’… Pegou um revólver calibre 38, desceu da cabine e começou a efetuar disparos em nossa direção. O primeiro disparo passou entre eu e o policial. Deu para ouvir perfeitamente o projétil passando próximo à nossas cabeças. Nisso, o policial sacou seu revólver e revidou. Foram vários tiros disparados. Eu, como não estava armado e não dispunha de colete à prova de balas, corri em direção a traseira do caminhão, procurando me proteger. Nesse momento, senti um leve ardor na perna esquerda e, quando parei, pude observar que havia levado um tiro próximo ao tornozelo, que transfixou. Quando cessaram os tiros, observei que estava chegando, em alta velocidade, um veículo da Brigada Militar, atendendo a solicitação de reforço feita pelo policial que me acompanhava. Passado o susto, me dirigi ao policial que já estava sendo socorrido pelos colegas, pois havia sido baleado na altura do peito, mas como estava de colete, restou apenas um grande hematoma. Não teve a mesma sorte o motorista do caminhão. Passei por muitas situações perigosas durante a minha carreira de fiscal estadual agropecuário, mas este evento, com certeza, jamais esquecerei.”

Kleber Rogério Palma de Mello, aposentado, de Teutônia. Ingressou no Estado em 1996. Na época do ocorrido, atuava na inspetoria de Santo Ângelo.

Servidora teve carro alvejado na garagem de casa

“Em março de 2017, por volta da 1h da manhã, ouvi um estrondo muito forte cerca de quatro vezes. Achei que era algo pesado que tinha caído na casa do vizinho. Na manhã seguinte fui trabalhar ainda antes de clarear o dia, saí de casa umas 5h30 da manhã e fui para o frigorífico. Por volta das 8h um funcionário veio me chamar e pediu pra eu levar junto a chave do meu carro, que estava estacionado no pátio interno do frigorífico. Então com o dia já claro foi possível ver três perfurações de bala no meu carro (porta-malas e lanterna traseira). Uma bala estava dentro do porta-malas. O fato ocorreu em Santa Maria do Herval. O frigorífico estava passando por uma troca de gestão e a presença da fiscalização estava “atrapalhando” os “interesses” da nova administração.”

Claudia Kirst, de Ivoti. Ingressou no Estado em 2014.

Fiscal sofre acidente e escapa de explosão de caldeira

“No mês de julho de 2018, estava temporariamente desempenhando minha atividade em um frigorífico no município de Taquara, que fica cerca de 60 km da minha lotação. Foi quando em uma segunda-feira de muita chuva, já próxima do estabelecimento, sofri um acidente de carro. Na ocasião, fui socorrida por pessoas que passavam no local. Como eu iria me atrasar para chegar no frigorífico, liguei para o proprietário para comunicar meu atraso, quando fui surpreendida pela informação de que a caldeira do estabelecimento havia explodido, levando dois funcionários a óbito. Se eu não tivesse me acidentado de carro naquele dia, provavelmente também estaria próxima da caldeira no momento da explosão.”

Raquel Cannavô, de Esteio. Ingressou no Estado em 2014.

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