Categoria protagonizou mobilização de servidores na Expointer 2015

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Capítulo 5 – Especial #Afagro20anos

Após construção e luta coletiva dos fiscais estaduais agropecuários que, com o apoio das chefias, resultaram na conquista da gratificação e da criação do cargo, em 2015 teve início o período mais conturbado da história da categoria e do funcionalismo estadual. Com a mudança de governo, a política passou a ser de ataque aos trabalhadores e de precarização dos serviços públicos, cenário que perdura até hoje. Assim como servidores de outras secretarias, os fiscais estaduais agropecuários passaram a enfrentar dificuldades.

Em julho do primeiro ano de gestão, o governador José Ivo Sartori (2015-2018) começou a atrasar e parcelar os salários. “Isso culminou em uma grande mobilização dos servidores públicos do Poder Executivo, com protagonismo dos fiscais estaduais agropecuários, contra o parcelamento dos salários. Trabalhar e não receber é algo assustador e impossível de conceber”, lembra o presidente do Sintergs, Antonio Augusto Medeiros, que na época estava à frente da Afagro.

No final de agosto e início de setembro, durante a Expointer de 2015, os servidores estaduais realizaram atos que ficaram marcados na história não só da associação, como do movimento sindical. Foi quando a Afagro passou a integrar a Frente dos Servidores Públicos do RS (FSP). Junto com trabalhadores de outras categorias da Secretaria da Agricultura, como os técnicos agrícolas, e de outras áreas do Poder Executivo, como Educação e Segurança, os fiscais estaduais agropecuários fizeram diversas manifestações ao longo de toda a semana da exposição.

Protestos repercutiram na imprensa

O calendário de mobilização contou com paralisação das atividades por um turno, bloqueio da saída de animais do parque e churrasco de pés de galinha, simbolizando o efeito dos salários atrasados. Na sexta-feira, dia do desfile dos grandes campeões, os servidores realizaram um grande ato que teve ampla repercussão na imprensa gaúcha. Os trabalhadores deram as costas para o governador durante o tradicional pronunciamento de inauguração da feira.

Também foi realizado o protesto que ficou conhecido como o “baile dos servidores públicos”, em alusão à dança de Sartori com a primeira-dama dias antes, no parque. “Simbolicamente, fizemos o baile dos servidores públicos que estavam sem receber os seus salários. O governador dançou e a gente também, para mostrar que a situação era gravíssima”, ressalta Medeiros. O dirigente sublinha que trabalhar sem receber foi uma situação pela qual os trabalhadores do setor público do RS nunca tinham passado.

Para manifestar o descontentamento, os servidores fizeram uma faixa com um cheque gigante de R$ 600 reais – valor da primeira parcela do salário pago naquela semana pelo governo. Toda esta mobilização foi decidida coletivamente em assembleias realizadas durante a feira. “Foi um movimento necessário em um momento que não estávamos recebendo os salários”, afirma Medeiros.

Por meio de uma grande mobilização e a partir do centralismo do trabalho na Expointer, os fiscais estaduais agropecuários mostraram a importância da categoria para o Estado. “Denunciamos o arrocho do governo Sartori com os servidores públicos. A partir daí, a Afagro teve um reconhecimento dentro do movimento sindical e associativo como não se tinha até então. Foi um cenário negativo que mostrou a força da fiscalização agropecuária”, opina.

Mudança completa de cenário

Se até o final do governo Tarso Genro (2011-2014) existia um ambiente político favorável às negociações, a partir de 2015 a situação mudou. O parcelamento dos salários durou mais de cinco anos: atravessou todo o governo Sartori e se estendeu até novembro de 2020, metade da gestão de Eduardo Leite. Foram 57 intermináveis meses de parcelamentos e atrasos. “Dali em diante, foi uma catástrofe para os servidores. É importante a categoria entender que as negociações, tanto da associação quanto dos sindicatos, não avançaram mais desde então”, ressalta Medeiros.

De 2015 para cá, os governos investiram fortemente na política de extermínio dos trabalhadores do serviço público. Além dos atrasos e parcelamentos dos salários, os servidores começaram a amargar a falta de reposição e perdas no poder de compra que, nove anos depois, passam de 60%. “É uma política de governo que consiste no estrangulamento dos servidores públicos”, define Medeiros, que presidiu a Afagro por duas gestões (2013 a 2015 e 2017 a 2019).

“As carreiras que tiveram avanços, foram sem ganhos de vencimento. É um período difícil para o movimento sindical de servidores como um todo. E isso está relacionado à conjuntura dos últimos três governos de Sartori e Eduardo Leite. Há esse imaginário de que outras categorias avançaram. Mas a verdade é ninguém mais avançou e estamos sendo atacados desde então”, registra o dirigente.

Medeiros ressalta que os servidores da segurança pública tiveram avanços aprovados no final do governo Tarso, com pagamentos que foram parcelados até o governo Sartori. Lembra que algumas categorias inclusive perderam direitos e menciona o confisco dos aposentados no início do governo Eduardo Leite.

Fotos: Arquivo Afagro

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